Introdução
Em tempos de incerteza e dor, muitos cristãos se perguntam: "Se Deus é bom, por que o sofrimento ainda existe?" Essa tensão entre a bondade divina e a realidade do mal no mundo não é nova — ela perpassa as Escrituras e continua a ecoar nas orações sinceras do povo de Deus. Dois textos bíblicos profundamente reveladores, Salmos 145:9 e Romanos 8:21, oferecem uma lente teológica poderosa para compreender a bondade universal de Deus e a esperança da criação por libertação.
Este artigo propõe uma reflexão crítica e aprofundada sobre essas passagens, trazendo luz ao caráter amoroso de Deus e ao plano redentor que se estende a toda a criação. Com base em uma leitura contextualizada das Escrituras, análises teológicas fundamentadas e aplicações práticas para a vida cristã, vamos explorar como a esperança cristã não é uma fuga da realidade, mas uma força que sustenta e transforma, mesmo em meio ao sofrimento.
Se você busca compreender como a bondade de Deus se manifesta mesmo nas circunstâncias mais difíceis, e como isso se conecta com a promessa de redenção cósmica em Cristo, este conteúdo é para você.
1. A bondade de Deus é para todos (Salmos 145:9)
“O Senhor é bom para todos, e as suas misericórdias estão sobre todas as suas obras.” (Salmos 145:9)
📜 Contexto histórico e literário
O Salmo 145 é um hino de louvor atribuído a Davi, estruturado em forma de acróstico — cada verso começa com uma letra do alfabeto hebraico. Este estilo literário não é casual: reflete uma intenção pedagógica e meditativa, convidando o leitor a contemplar a grandeza de Deus em todas as dimensões possíveis.
Davi, um rei que enfrentou guerras, traições e crises pessoais, não escreve de um lugar de conforto cego, mas de alguém que conheceu tanto o poder quanto a misericórdia de Deus. Ao afirmar que Deus é “bom para todos”, Davi não está negando o sofrimento humano, mas exaltando a bondade divina como um fundamento da existência — mesmo em um mundo quebrado.
✝️ A bondade como atributo divino
A teologia bíblica reconhece a bondade como um dos atributos essenciais de Deus. O teólogo Wayne Grudem, em sua Teologia Sistemática, define a bondade de Deus como “aquele aspecto do caráter de Deus pelo qual Ele se revela como benevolente, generoso e desejoso de abençoar a criação”. Isso não significa que Deus age com bondade apenas quando tudo vai bem, mas que Ele é bom em Sua essência, e essa bondade permeia tudo o que faz.
A afirmação “Deus é bom para todos” indica uma graça comum — termo teológico usado para descrever os benefícios que Deus concede indiscriminadamente, como o sol que brilha sobre justos e injustos (cf. Mateus 5:45).
🔁 Referências bíblicas cruzadas
Salmos 103:8-10 – “Compassivo e misericordioso é o Senhor, tardio em irar-se e grande em benignidade.”
Lamentações 3:22-23 – “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos.”
Atos 14:17 – Paulo afirma que Deus “não deixou de dar testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas.”
Essas passagens reforçam que a bondade de Deus é abrangente e persistente, mesmo quando não a percebemos claramente.
🧭 Aplicações práticas
Cultive uma visão generosa de Deus: Muitas vezes, nossa imagem de Deus é distorcida por experiências negativas. Salmos 145:9 nos convida a recomeçar pela base: Deus é bom. Essa convicção é o antídoto contra a amargura e a desesperança.
Seja um reflexo da bondade que você recebe: Se Deus é bom para todos, nosso testemunho deve também se estender além de bolhas religiosas. Amar, servir e abençoar sem exigir nada em troca é o reflexo mais direto da bondade divina.
Reconheça a bondade mesmo em meio à dor: O Salmo 145 não ignora a realidade do sofrimento, mas nos treina para enxergar a mão de Deus operando por trás dos bastidores, sustentando o mundo com misericórdia.
2. A criação geme, mas com esperança (Romanos 8:21)
“...na esperança de que também a própria criação será libertada do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus.” (Romanos 8:21)
📜 Contexto histórico e teológico
A carta aos Romanos foi escrita por Paulo por volta do ano 57 d.C., quando ele estava em Corinto. É uma epístola profundamente doutrinária, onde o apóstolo expõe os fundamentos da justificação pela fé, da obra redentora de Cristo e da nova vida no Espírito. No capítulo 8, Paulo trata da segurança do crente em Cristo, mostrando que, embora a realidade presente envolva sofrimento e corrupção, a esperança da redenção futura é garantida.
No versículo 21, Paulo usa uma linguagem profundamente poética e escatológica. Ele personifica a criação como uma entidade que sofre, que geme e que anseia por ser libertada — uma visão poderosa do alcance cósmico da queda e da redenção.
✝️ Teologia da criação e da redenção
Segundo a tradição cristã, o pecado humano não corrompeu apenas o relacionamento entre Deus e o ser humano, mas afetou toda a criação (cf. Gênesis 3:17-19). A natureza, que antes era lugar de harmonia, passou a refletir a desordem provocada pela rebelião do homem. Essa realidade é expressa por Paulo em Romanos 8:21, onde ele fala da “escravidão da corrupção”.
Contudo, Paulo não escreve um tratado de desespero. Pelo contrário, ele fundamenta tudo na esperança. A palavra usada por ele, eleutherōthēsetai (θαλευθερωθήσεται), traduzida como “será libertada”, aponta para um futuro certo — uma libertação que será plena e gloriosa. Aqui entra a redenção escatológica, o tempo final onde todas as coisas serão restauradas em Cristo (cf. Colossenses 1:20).
O teólogo suíço Karl Barth escreveu que “a esperança cristã não é um otimismo humano, mas a certeza de que Deus redime o que Ele criou”. Essa frase resume bem a teologia por trás de Romanos 8:21 — não é uma fuga da realidade, mas uma firme expectativa baseada na fidelidade de Deus.
🔁 Referências bíblicas cruzadas
Isaías 65:17 – “Porque eis que eu crio novos céus e nova terra...”
Apocalipse 21:5 – “E aquele que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas.”
2 Pedro 3:13 – “Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça.”
A Bíblia é uníssona ao afirmar que a redenção de Deus não é apenas individual ou espiritual, mas cósmica. Toda a criação será restaurada.
🧭 Aplicações práticas
Esperança no meio da corrupção: Vivemos em um mundo marcado pela injustiça ambiental, guerras, doenças e desigualdade. Romanos 8:21 nos ensina que a corrupção presente não será o capítulo final da história — a criação será restaurada. Isso nos convida a viver com fé ativa, mesmo em tempos sombrios.
Responsabilidade ecológica e espiritual: O fato de que a criação pertence a Deus e está incluída na Sua promessa de redenção nos desafia a cuidar dela hoje. Ser cristão inclui ser um bom mordomo do mundo criado (cf. Salmos 24:1).
A glória dos filhos de Deus como antecipação do futuro: Paulo conecta a libertação da criação com a “glória dos filhos de Deus”. Isso quer dizer que à medida que vivemos como filhos redimidos — justos, compassivos, misericordiosos — somos sinais vivos de que o Reino já está entre nós, ainda que em parte.
5. Aplicação Prática: Viver na Esperança
A compreensão da bondade de Deus e da redenção futura deve gerar transformação prática. O cristão é chamado a refletir a bondade de Deus em atos concretos de amor, cuidado e justiça. Como mordomos da criação, temos a responsabilidade de preservar, cultivar e proteger aquilo que Deus chamou de “muito bom” (Gênesis 1:31).
A esperança também sustenta a resistência ao mal. A certeza de que Deus está redimindo todas as coisas encoraja o crente a não ceder ao desespero. Karl Barth disse certa vez que “o cristão é aquele que espera contra toda esperança, porque conhece o Deus da esperança”.
Por fim, essa esperança aponta para a missão. Se a bondade de Deus é para todos, a mensagem do evangelho também deve ser proclamada a todos. A missão da Igreja está enraizada na convicção de que Deus está fazendo novas todas as coisas.
Conclusão: A bondade que sustenta e a esperança que renova
Salmos 145:9 nos mostra que Deus é bom para todos — Sua graça comum se estende sobre toda a criação. Romanos 8:21 amplia essa perspectiva ao revelar que, mesmo diante da corrupção e do sofrimento, a criação inteira caminha rumo à libertação e à glória.
Essas verdades se unem em uma só mensagem: a bondade de Deus não é passiva, ela é restauradora. Ela sustenta o mundo hoje e garante um futuro em que toda dor será desfeita. Como disse Agostinho de Hipona, “Deus é tão bom que não permite que o mal tenha a última palavra”.
🌍 Você crê que a bondade de Deus pode se manifestar através de você, mesmo em um mundo marcado por dor e corrupção?
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